Gaucho and the Grassland não é só mais um jogo com fazendinha — e eu confesso que foi exatamente isso que eu pensei quando comecei. Logo veio aquela preocupação: “será que vai ter ciclo de plantações, sistema de tempo pressionando, colheita que se perde, animais invadindo a fazenda, craft que me faz correr atrás de mil recursos…?” Mas, para a minha surpresa (e alívio), o jogo é tudo o que a gente espera de um simulador rural, sem ser o que nos cansa nesse tipo de jogo.
Aqui, o foco não é produtividade, é sensibilidade. É acolher, entender, ajudar, viver com calma. E tudo isso é feito com tanto cuidado, com tanta brasilidade, que parece uma conversa boa com alguém mais velho da roça — cheia de histórias, causos e sabedoria.
Isso torna o jogo muito mais acessível e acolhedor, especialmente para quem quer jogar com calma, no próprio ritmo, sem precisar recorrer a guias complexos ou fóruns com tabelas de craft.
Um jogo sobre fazer o bem (e não sobre ser eficiente)
O que mais me encantou em Gaucho and the Grassland foi perceber que ele não te pressiona, não te julga, não te exige produtividade a cada minuto. O sistema de dia e noite existe, sim, mas serve mais como parte do cenário e da ambientação: certos personagens aparecem de manhã, outros à noite. É um detalhe que te convida a explorar, não a correr.
E o sistema de escambo, sem moedas, é uma delícia. A troca de itens não é só mecânica — ela reforça o valor da confiança, da convivência, e isso conversa muito com a proposta de um mundo rural, onde as relações importam mais que o lucro.
Você não joga esse game para vencer. Você joga para cuidar, entender, proteger e descobrir.
Folclore tratado com respeito e sutileza
Um dos grandes destaques do jogo é a forma como o folclore brasileiro é inserido na história. O Boitatá e outros guardiões aparecem com uma roupagem nova, criativa, sem exagero, sem caricatura. E o melhor: eles são apresentados de forma tão orgânica que você nem percebe que está aprendendo, só sente curiosidade, só quer ver mais.
Em vez de seguir o caminho exagerado e fantasioso de outras mídias, Gaucho and the Grassland traz figuras míticas como o Boitatá e outros guardiões com respeito, sutileza e frescor narrativo. Eles surgem como parte natural do mundo, despertando curiosidade e dando vontade de explorar mais — não apenas como “chefes” ou obstáculos, mas como partes vivas de uma mitologia viva e orgânica.
Essa abordagem funciona como uma verdadeira aula de cultura popular, sem parecer didática ou forçada. É o tipo de jogo que poderia (e deveria) ser jogado em escolas de tão rica que é a imersão cultural. O jogo te faz lembrar de como seria legal se a gente tivesse dado mais atenção às aulas de história e cultura popular. É um resgate afetivo.
Trilha sonora que parece novela — e isso é um elogio
A trilha sonora é um dos pontos mais emocionantes do jogo. As músicas são suaves, nostálgicas, e muitas vezes lembram temas de novelas brasileiras antigas — daquelas que sabiam usar a música para traduzir o espírito de um povo. A ambientação sonora é tão envolvente que você vai querer simplesmente cavalgar, explorar e apreciar os cenários só pra curtir o clima.
A ausência de grandes confrontos é compensada com profundidade emocional e ambientação afetiva. Até os sons de interação — passos, grunhidos, relinchos — parecem escolhidos a dedo para criar um espaço seguro e caloroso. É um lo-fi rural, suave, feito pra você andar pelo mapa só pra ouvir mais.
Gostaria que tivesse um modo fotografia, porque os cenários junto da trilha criam momentos de contemplação mesmo. Não tem música ruim. É tudo feito com propósito, com calma e com alma.
Um jogo com fazenda, mas sem te obrigar a virar um fazendeiro
Apesar de ter toda a estética de fazenda, Gaucho and the Grassland não te cobra desempenho agrícola. A parte de cuidar dos animais, construir casinhas e coletar recursos está ali, mas é secundária, sem aquela cobrança sufocante de “plante isso até dia tal” ou “cuidado com a invasão noturna”.
As mais de 120 missões também são bem distribuídas: sim, há certa repetição, mas cada bioma tem sua narrativa, suas próprias situações, e até personagens inspirados em ícones da cultura pop brasileira. O jogo te dá vontade de ajudar, porque cada troca gera impacto na comunidade inteira, não só no personagem da vez.
Cada bioma — praia, serra, pampas e o mundo místico — tem identidade própria, trilha sonora específica e até comportamentos climáticos únicos. No Pico das Hortênsias, por exemplo, o frio e a neblina criam desafios totalmente diferentes do calor e da espiritualidade do centro mágico do mapa, lar do Guardião dos Pampas.
Elas constroem pequenas narrativas locais, com personagens cativantes, situações inusitadas (como um surfista teimoso na Costa da Canoa) e momentos de puro carinho com os animais nos Pampas Verdejantes.
A economia do jogo é baseada no escambo — uma forma de troca direta entre os personagens, sem uso de dinheiro. Isso reforça a ambientação isolada e tradicional do mundo de Gaucho and the Grassland, e torna as interações mais significativas e orgânicas. Você vai trocar bergamota por pinhão, melancia por abrigo, ferramentas por receitas… tudo com base na confiança.
É uma escolha que valoriza o coletivo e a interdependência, temas cada vez mais raros nos jogos modernos.
Um jogo brasileiro até nos detalhes
O cuidado que a equipe da Epopeia Games teve com o texto e com os diálogos é de aplaudir de pé. As falas são naturais, engraçadas, acolhedoras, e misturam expressões regionais com frases atemporais — daquelas que você escuta e pensa: “ué, isso é coisa de gaúcho ou paulista? Ou será que é nordestino?”
Essa mistura dá uma identidade única. É um Brasil inteiro costurado na fala, no sotaque e nas atitudes. Tem até uma missão sobre futebol que une pessoas de diferentes regiões — um toque pequeno, mas simbólico, sobre como nossa cultura é conectada por coisas simples.
Uma aventura que não precisa de luta
Esse jogo não tem combate, não tem espadas, não tem pancadaria. E, sinceramente? Ainda bem.
A aventura é emocional e relacional. Você ajuda, explora, observa, aprende. Cada lugar do mapa desperta reações diferentes nos personagens — o que é um presente pra quem gosta de prestar atenção nos detalhes.
Nada é raso, mesmo nas missões mais simples. Tem sempre uma camada extra escondida ali, seja uma referência, uma mensagem ou uma emoção inesperada.
Alguns “trancos e barrancos”
Apesar do jogo ser simples, percebi alguns leves bugs e algumas coisas que me deram um certo desconforto durante a jogatina. Percebi que em alguns biomas, a visão do que está a sua frente fica bem comprometida, mesmo jogando em uma televisão grande ou em um monitor, com ajustes de contrastes e brilho, era difícil enxergar o que estava a um palmo do meu personagem. E foram justamente os biomas com climas escuros e névoas onde você acaba ficando um maior tempo de jogatina para conseguir terminá-los.
Na missão dentro da caverna com as formigas para libertar um dos guardiões que estava preso, você precisa enganar as formigas para prendê-las contra alguns portais para que você consiga deixar com que os “interruptores” que prendem o guardião sejam, desligados. Eu não sei o que eu fiz aqui, mas o contador de interruptores necessários ficou um número negativo e por nada voltava a contagem normal.
Mesmo eu resetando a missão isso voltava acontecer. E mesmo eu concluíndo a missão, o jogo não reconheceu ela como missão concluída e eu precisei refazer essa missão novamente. O que me rendeu uma chave extra!
Alguns animais pelo cenário também ficaram presos em rochas e enquanto eu galopava com meu cavalo dentro de algumas áreas, ele descorregava ou se enroscava no cenário, me forçando a recarregar o jogo novamente.
Uma certa missão onde você deve guar uma moça de volta para sua fazenda de plantação de trigos, ela acabava ficando enroscada em alguns lugares do cenário e também precisei voltar a alguns bons passos para que ela entendesse o caminho e me encontrasse, mesmo descendo do cavalo e seguindo o caminho a a pé ela ficava desnorteada, tadinha.
Não são bugs que atrapalham fortemente a jogatina, mas que me cansaram um pouco para conseguir contorná-los. Quem sabe em atualizações futuras isso não é corrigido?
Os controles são simples e durante os diálogos você deve ficar atento ao uso do analógico esquerdo para controlar a setinha do mouse que te ajuda a selecionar opções ou quando você usa o modo construção. Apesar de não ser complicado de pegar o jeito, achei que faltou um tutorial mais detalhado de como funcionam esses controles.
Conclusão
Gaucho and the Grassland é uma carta de amor ao Brasil profundo, aos sotaques, ao folclore, à cultura do campo e, acima de tudo, ao jeito gentil de se viver a vida. Não é um jogo pra correr, pra competir ou pra colecionar conquistas — é um jogo pra sentir, aprender e descansar.
Num tempo onde quase tudo exige desempenho, esse aqui pede só o seu tempo e sua atenção. E, em troca, ele te entrega calma, afeto, beleza e orgulho de quem somos.
Prepare a cuia, afie o facão (mas só pra cortar o pão ou o mato) e se deixe levar por essa experiência única, leve e inspiradora.
Gaucho and the Grassland é um daqueles jogos que te abraçam devagar, mas não soltam mais. Com ambientação encantadora, proposta pacífica e riqueza cultural, ele transforma o comum em mágico, e o mágico em acessível. É um título que merece ser descoberto, discutido, e, acima de tudo, apreciado com calma, como um bom chimarrão.
Se você busca uma aventura sem pressa, com alma, raízes e identidade, monte no cavalo e venha conhecer o sul do sul.
Ficha técnica
- Nome: Gaucho and the Grassland
- Desenvolvedora e publicadora: Epopeia Games
- Gênero: Aventura narrativa com elementos de simulação rural
- Plataforma: PC (Steam)
- Lançamento: 16 de julho de 2025
- Preço: R$ 60 (com 15% de desconto nas duas primeiras semanas)
- Idioma: Português brasileiro
- Destaques: 120+ missões, economia de escambo, folclore nacional, trilha sonora imersiva, narrativa acessível
Análise – Gaucho and the Grassland
Bão demaise!
Este é um jogo para todas as idades, todas as rotinas e todos os corações abertos. Não é só um simulador rural, é uma homenagem às pequenas alegrias, às culturas esquecidas, aos sotaques diversos e aos modos de vida fora dos grandes centros.
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Jogamos a versão 1.0 para PC (Steam)
Para saber mais sobre Gaucho and the Grassland, acompanhe a Epopeia Games no X, Instagram, TikTok canal do YouTube e no Discord.
Sobre a Epopeia Games
A Epopeia Games é responsável por outros games que já foram indicados a diversos prêmios, e publicou o sucesso indie brasileiro de 2024, MULLET MADJACK. Agora promete inovar no quesito temática de jogos de fazenda com o lançamento de Gaucho and the Grassland, que já foi premiado na categoria: MELHOR PITCH DE JOGOS DAS ASSOCIAÇÕES REGIONAIS no Big Festival de 2022, em São Paulo. O jogo tem data de lançamento prevista no PC para 2025, mas futuramente será lançado também nos consoles Xbox, Nintendo Switch e Playstation 4/5.
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Sobre o autor:
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Um casal (Erickitto e Gui), gaymer e pobre que se vira pra jogar da maneira que dá e quando dá. Gostamos de fofocar sobre games e animes!
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